Impulso do coronavírus para os alimentos orgânicos: ‘Crises de saúde têm um impacto a longo prazo na demanda do consumidor’
Em meio a pandemia causada pelo novo coronavírus, aumenta a preocupação com os cuidados com a saúde, incluindo aí a demanda por alimentos mais saudáveis e seguros, como os produtos orgânicos. Análises indicam que a longo prazo a demanda por alimentos orgânicos vai aumentar – tendência que já vem sendo observada na Europa, nos Estados Unidos e até mesmo no Brasil.
Um novo relatório da Ecovia Intelligence – consultoria especializada na análise dos mercados de produtos orgânicos e sustentáveis – sugere que as vendas orgânicas tiveram um “aumento considerável de vendas” globalmente.
Os varejistas online estão relatando o maior crescimento de vendas. Nos EUA, o Whole Foods Market – um gigante do varejo orgânico mundial – começou a limitar o número de seus clientes de compras online devido a uma demanda aquecida. Simultaneamente, no Reino Unido, a Abel & Cole registrou um aumento de 25% nos pedidos de vendas, movimento que vem sendo observado em diversas outras empresas que trabalham com vendas online.
As lojas físicas também estão se beneficiando das medidas de emergência introduzidas pelos governos nacionais. Lojas especializadas em orgânicos e naturais permaneceram em grande parte abertas, respeitando as normas de higiene e segurança, e estão atraindo mais compradores e aumentando os gastos dos clientes existentes. Na França, de acordo com o relatório, algumas lojas de alimentos orgânicos registram crescimento acima de 40%.
No Brasil, a preocupação com a manutenção da economia local aumentou na mesma medida em que os casos de coronavírus. Muitos buscam apoiar o comércio local, indo em pequenos supermercados e até mesmo procurando máscaras e equipamentos de produção produzidos em seu bairro. Essa mesma lógica vem sendo observada na busca por produtos orgânicos, principalmente na entrega de cestas por meio das células de consumidores conscientes. Esse tipo de venda direta tem, além das já conhecidas vantagens de menor preço e acesso a produtos frescos com a eliminação de intermediários, o benefício de trazer para as famílias produtos mais saudáveis, seguros e benéficos ao meio ambiente.
Preocupação com a saúde & segurança dos alimentos leva consumidores a buscarem os orgânicos
De acordo com dados da startup de inteligência alimentar IA Tastewise, que rastreia o engajamento online dos consumidores, as menções de ‘imunidade’ no contexto de pesquisas relacionadas a alimentos aumentaram 27% entre fevereiro de 2019 e março de 2020. Kombucha, legumes em conserva e melão são exemplos de itens que tiveram um aumento significativo no interesse desde o início do vírus, de acordo com a Tastewise.
Os alimentos orgânicos são vistos como mais saudáveis e seguros do que as alternativas convencionais, de acordo com fundador e CEO da Ecovia Intelligence, Amarjit Sahota: “Sempre que há um susto alimentar ou um problema de saúde (como o SARS), os consumidores observam a prevenção de doenças e melhoram a nutrição. Os alimentos orgânicos aumentam as vendas, pois são percebidos como mais saudáveis e seguros do que os alimentos convencionais.
“Os alimentos orgânicos evitam agrotóxicos, produtos sintéticos e fertilizantes químicos e, portanto, são considerados menos prejudiciais do que os alimentos convencionais. Vários estudos também mostram que os alimentos orgânicos têm mais nutrientes do que os alimentos convencionais. Portanto, os consumidores compram alimentos orgânicos, pois são considerados mais seguros e nutritivos do que os alimentos convencionais. ”
Tudo indica que os consumidores estão dispostos a pagar um preço mais alto pelos alimentos que são entregues respeitando esses critérios. Porém, à medida que os fabricantes de orgânicos reagem ao aumento repentino da demanda, os problemas de fornecimento vão surgindo. É fato: o COVID-19 colocou as cadeias produtivas dos produtos orgânicos sob pressão. De acordo com o grupo de pesquisa da Ecovia e analistas diversos, muitas das matérias-primas usadas pelas empresas de alimentos orgânicos da Europa e da América do Norte são produzidas na Ásia, América Latina e África.
No Brasil, com o aumento da demanda à nível local e regional, produtores vem se desdobrando para manter a produção em níveis suficientes, mesmo com as dificuldades logísticas trazidas pela pandemia. Grupos de produtores afirmaram ter sido necessário a interrupção das vendas, por alguns dias, para depois retomar por meio de plataformas de vendas online, fazendo com que muitas cooperativas e pequenas empresas desenvolvessem websites ou aplicativos para organizar pedidos e entregas.
Aumentos sazonais dão origem a impactos duradouros no mercado de orgânicos
Crises de saúde e surtos alimentares têm um impacto de longo prazo na demanda do consumidor. Inicialmente, há um aumento nas vendas, pois os consumidores temem pela segurança dos alimentos e sua saúde pessoal, o que impulsiona a compra de produtos mais saudáveis. No entanto, a demanda geralmente permanece em níveis flutuantes pós-crise. Esse movimento foi observado antes em vários escândalos alimentares, surtos de vírus e problemas na saúde em geral. Por exemplo, de acordo com a Ecovia, o escândalo de melamina na China levou a um aumento na demanda por alimentos para bebês e laticínios orgânicos em 2008. O escândalo levou muitas empresas de laticínios a investir em práticas de produção orgânica. A China agora possui o maior mercado de laticínios orgânicos na Ásia; também possui o maior mercado de fórmulas infantis orgânicas do mundo.
Mesmo assim, é provável que a escala da recessão econômica tenha um impacto no poder aquisitivo dos consumidores, o que tornará difícil confirmar essa tendência de aumento no consumo de orgânicos: são duas tendências contrárias acontecendo. Durante uma crise econômica, os consumidores tornam-se sensíveis aos preços e “negociam em baixa” ou buscam mais valor ao fazer compras. No entanto, durante a crise de alimentos e saúde, eles se tornam mais conscientes da qualidade e estão dispostos a pagar mais por alimentos saudáveis e nutritivos.