- 19 de maio de 2020

A Calda Bordalesa na Agricultura Orgânica

A calda bordalesa é um aliado de longa data dos produtores orgânicos. Por ser de preparo caseiro e apresentar eficácia no combate a fungos, além de outros benefícios, é um insumo de grande importância na agricultura orgânica. Entretanto, não pode ser utilizada indiscriminadamente e precauções devem ser levadas em conta em seu preparo e aplicação.

 

Pierre Milardet foi um botânico e micologista que atuou como professor nas universidades de Strasbourg, Nancy e Bordeaux, com pesquisas relevantes sobre as moléstias de plantas que afligiam vitivinicultores na França do século XIX. Apesar de todos os trabalhos realizados em laboratórios com pragas e doenças, foi por meio de uma observação prosaica que ele deixou sua contribuição mais popular.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d6/Plasmopara_viticola_000.jpg/220px-Plasmopara_viticola_000.jpg
Folha com sintomas de Plasmopora viticola

Caminhando na região de Bordeaux, famosa pelos seus vinhos mundialmente conhecidos, Milardet notou que ao longo das estradas as plantas não eram atacadas pelo míldio da videira (uma importante doença causada pelo fungo Plasmopora viticola), enquanto o restante do vinhedo apresentava danos causados pela doença. Após questionar os produtores, descobriu que essas vinhas recebiam aplicações de uma mistura de sulfato de cobre e cal, para evitar que os frutos fossem comidos pelos transeuntes que passeavam pelas estradas, já que essa mistura conferia um gosto amargo as uvas.

Curioso, Milardet foi ao laboratório e identificou que a calda aplicada inadvertidamente pelos agricultores era um eficaz tratamento conta doenças fúngicas como o míldio da videira. Suas conclusões foram publicadas em 1885 e a calda ficou mundialmente famosa como Calda Bordalesa. Além de seu uso para controlar a infecção fúngica em videiras, a mistura também é amplamente usada para controlar a ferrugem da batata, o enrolamento das folhas de pêssego e a casca de maçã, entre outros. A calda bordalesa é considerada um insumo polivalente, já que possui também atuação como repelente de insetos e até mesmo adubação foliar. 

A calda bordalesa alcança seu efeito por meio dos íons de cobre (Cu2 +) da mistura. Esses íons afetam enzimas nos esporos dos fungos de forma a impedir a germinação e desenvolvimento. Ou seja, a calda deve ser usada preventivamente, antes da doença fúngica infestar as plantas.  É necessária uma cobertura completa nas plantas. A calda possui boa aderência as folhas, embora a longo prazo seja lavada pela chuva. 

Por conta de sua composição, possui especial relevância para agricultura orgânica, sendo autorizado seu uso pela Lei 10831/03 que regula a produção orgânica no Brasil. A possibilidade do preparo caseiro da calda bordalesa pelos próprios agricultores permite que pequenos produtores tenham acesso a uma ferramenta de controle de doenças de baixo custo. Seu preparo, de acordo com a Embrapa, inclui 100 gramas de Sulfato de Cobre e 100 gramas de cal virgem misturados com 10 litros de água.

Preparação da Calda Bordalesa

Mesmo tendo seu uso autorizado, a calda bordalesa requer alguns cuidados. O sulfato de cobre em excesso pode  desequilibrar o ambiente através da lixiviação do solo, podendo ocorrer acumulação do cobre no solo, com impacto na microbiologia do solo e no próprio desenvolvimento das plantas – uma alta concentração de cobre extermina por completo as minhocas no solo, que são benéficas em qualquer cultivo saudável e imprescindíveis na agricultura orgânica.

Por ser um produto com certo grau de toxidade, ao alcançar rios e outros corpos de água, pode afetar peixes e criações de animais. Também por isso, frutas, sementes, folhas, etc. que foram tratadas com esse preparado devem ser evitados e não ingeridos antes de rigorosa higienização. Embora seja de baixa volatilidade, ela pode produzir irritações na pele e mucosas quando em contato direto com o corpo. Sendo assim, como na maioria das aplicações de produtos agrícolas, durante sua manipulação é necessário seguir procedimentos padrões de segurança. Ou seja, deve-se usar trajes apropriados e cuidados como luvas impermeáveis, máscaras de proteção e botas de borracha.

É possível encontrar a calda bordalesa em formulações prontas no comércio. Porém antes de adquirir ou aplicar o produto na lavoura orgânica, é necessário atentar para sua composição, registro do produto e outros detalhes, para que não incorra no risco de aplicar um produto que, além dos ingredientes conhecidos, contenha alguma substância sintética proibida na agricultura orgânica.

Para entender melhor o uso da calda bordalesa e outros insumos caseiros na agricultura orgânica, assim como os principais insumos e práticas autorizadas pela legislação, conte com os especialistas da OrgânicosPro.