O que pensam os CEO da indústria de orgânicos dos EUA para 2021?
Depois de todos os solavancos e acomodações que acompanhamos durante o último ano, surge a pergunta – o que esperar de 2021 para o mercado de orgânicos? Em um esforço para compreender o cenário atual e traçar perspectivas para o futuro, o organicinsider.com fez essa pergunta para os executivos das principais empresas de produtos orgânicos nos Estados Unidos, o principal mercado de orgânicos do mundo.
Todos os segmentos, no setor de alimentos e na economia como um todo, concordam que 2020 foi um ano atípico por conta da pandemia que afetou a todos nós. Ainda assim, os desafios para superar as restrições trazidas pelo vírus ajudaram a desenvolver novos modelos de negócios ao mesmo tempo em que aumentou o interesse do consumidor em alimentos mais saudáveis – inclusive os orgânicos, produzidos sem o uso de agrotóxicos ou transgênicos, que apresentaram crescimento significativo nos últimos 12 meses.
Para Bob de Borde, CEO da Suja Organic, um dos maiores determinantes para o crescimento de produtos orgânicos em 2021 será como duas macrotendências concorrentes se desenrolam: 1) maior foco dos consumidores no alimento que entra em seus corpos e como é esse alimento é produzido, e 2) o aperto cada vez maior sobre o orçamento das famílias – ambas tendências fruto da pandemia de COVID-19: “Provavelmente variará por categoria, mas esperamos que a produção continue seu forte crescimento de 2020, e os produtos orgânicos que têm um claro componente funcional ou de bem-estar devem ter um bom desempenho no primeiro semestre em 2021”. O executivo sinaliza que essa expectativa irá balizar os lançamento da companhia, voltada para o segmento de sucos funcionais orgânicos, com alto teor de vitamina C, zinco e outros nutrientes.
Considerando que teremos a vacinação para um número cada vez maior de pessoas, uma grande questão é: quais comportamentos preventivos e proativos de compras permanecem? “Nesse caso, alguma queda nesse comportamento é prevista, mas também acreditamos que muitos consumidores que se converteram em uma dieta mais saudável e limpa a manterão para sempre”, afirma Borde.
Na Patagonia Provisions – dona de um mix de produtos amplo que vai desde frutos do mar até cerveja orgânica – a executiva Brigit Cameron tem pensamento semelhante: “Práticas e produtos orgânicos devem continuar ganhando força significativa em 2021. Acreditamos que para fazer mudanças positivas e efetivamente absorver o carbono, agricultura orgânica e regenerativa precisam ocorrer juntas”
O otimismo está relacionado com a percepção de que o padrão de consumo mudou: “Os consumidores estão se tornando mais conscientes de como os alimentos que comem e as roupas que vestem se relacionam com as mudanças climáticas. Essas mudanças na consciência do consumidor e nas práticas agrícolas mais saudáveis não acontecem da noite para o dia, mas nas Patagonia Provisiona, vemos um caminho claro para um futuro melhor.”
Quem também fala de mudança no modo de vestir é Marci Zaroff, fundadora da ECOfashion Corp, que prevê um bom momento para o vestuário produzido com tecidos orgânicos certificados: “2021 será o ano dos têxteis de algodão orgânico. Agora que mais de 83% dos consumidores dos EUA abraçaram os alimentos orgânicos (pelo menos ocasionalmente), as sementes da consciência foram plantadas e estão inevitavelmente evoluindo de alimentos orgânicos para fibras – de “fazenda à mesa”, “fazenda ao corpo” e “fazenda para casa. ”
Outra tendência que se observou em 2020 foi a mudança de comer fora de casa para comer em casa, como destaca a diretora da Triple B Operating Unit da General Mils, Emily Thomas: “Existe um crescimento grande na busca por refeições práticas, comida que nos forneça bem estar e conforto por meio de produtos de valor agregado maior. Acreditamos que haverá uma mudança na maneira como os consumidores pensam sobre seu bem-estar em um mundo pós-COVID, tanto física quanto mentalmente”.
Nesse sentido, quando falamos de alimentação e bem-estar, o sabor é muito importante – ponto positivo para os orgânicos. As previsões em geral apontam que o desejo por opções de alimentos saudáveis e que se encaixam de forma conveniente na rotina das pessoas se expandirá mesmo após a pandemia, à medida que a importância da saúde / nutrição preventiva e do atendimento personalizado para suas necessidade aumenta entre os consumidores.
“Historicamente, o orgânico tem sido visto como um exemplo de pureza e isso terá um significado maior à medida que emergirmos da pandemia. A longo prazo, haverá uma integração melhor de soluções omnichannel que ofereçam aos consumidores acesso, conveniência e praticidade para gastar menos esforço mental em casa – pense em pacotes de ingredientes kits de refeição prontas em seu freezer”, completa a executiva.
Ou seja, podemos apontar para algumas tendências no mercado de orgânicos de 2021, em um mundo ainda buscando uma rota de fuga da pandemia: continua a tendência de alta no consumo de orgânicos, baseada em mudanças no padrão de consumo; se consolidam novas fronteiras do mercado, como no vestuário e cosméticos certificados; cada vez maior preocupação do consumidor em preparar seu próprio alimento, priorizando a experiência de comer comida saudável em família, porém sem abrir mão da praticidade. Além desse pontos, seguem em alta a agricultura regenerativa e alimentos “plant based” – que serão temas de outros artigos futuros.
Em que se pesem as grandes diferenças entre os mercados de orgânicos nos Estados Unidos e no Brasil, é importante levar em conta as tendências do mercado – afinal, para bem ou para mal, nunca o nosso país esteve tão alinhado com o vizinho do norte. Uma coisa é certa: as mudanças no comportamento e nas demandas do consumidor vieram para ficar e o mercado deve acompanhar essas mudanças.
Daniel Araujo é engenheiro agrônomo e fundador da OrgânicosPro (www.organicospro.com.br)